Como marcas podem desempenhar um papel significativo na formação e sustentação dessas práticas em nossas vidas modernas.
Todo final de ano, festividades como Natal e o Ano Novo se tornam parte do nosso tempo e participamos, de uma forma ou outra, dessas cerimônias que chegaram até nós transmitidas de geração em geração. Sejam eles sociais, como celebrações comunitárias, cerimônias religiosas, encontros familiares, ou individuais, como meditação e exercícios físicos regulares, estes rituais exercem uma influência profunda sobre nossos pensamentos, comportamentos e sentimentos, permeando as estruturas de união em nossas famílias, grupos de amigos, ambientes de trabalho e comunidade.
No artigo que escrevi ainda em 2019, dissertei sobre o sentido de **mantermos práticas rituais que remontam aos tempos primitivos.** Apontei como nossos velhos rituais foram, senão completamente esquecidos, transformados em meros eventos de status. Em suma, falei de como somos afetados por uma crise simbólica cuja causa pode ter sido fruto de cotidianos cada vez mais racionais e menos espiritualizados.
Não obstante, num mundo marcado por uma economia neoliberal, que promove uma cultura de individualismo, produtividade e hiperconexão, há uma tendência de desvalorização dos rituais tradicionais e coletivos em favor de uma lógica voltada ao desempenho, à eficiência e ao consumo imediato.
É sobre isso que Byung-Chul Han trata ao citar um vazio simbólico, onde imagens e metáforas, que costumavam dar sentido à vida, têm se perdido. Dentro desse contexto, destaca os rituais como técnicas simbólicas de entrelaçamento, ao unir pessoas com outras pessoas ou a conceitos. Por isso eles transformam nossa presença no mundo em, nas palavras do filósofo, um estar-em-casa, contribuindo para a construção de um mundo mais confiável.
No pós-pandemia, quando vários problemas globais e locais emergiram afetando diferentes esferas da vida, como política, economia, saúde, meio ambiente e tecnologia, transformações rápidas e imprevisíveis, contribuíram para um ambiente global marcado por incertezas.
A perda e o resgate dos rituais cotidianos emergiram como um tema cada vez mais premente, destacado no relatório de tendências da Accenture, o Fjord Trends. A análise abordou a dinâmica contemporânea entre a perda e a revitalização dos rituais, profundamente influenciada pelo impacto da pandemia, ressaltando a relação de como marcas podem fazer parte e até recuperar certos rituais perdidos
No entanto, como profissional de branding, me questiono até onde e como, marcas têm uma alguma oportunidade e responsabilidade de apoiar pessoas em seus rituais, ou ainda, se apenas atrapalhariam um fluxo natural ao oferecer produtos e serviços muitas vezes desnecessários.
Talvez se essas marcas forem capazes de encontrar maneiras de auxiliar pessoas a se sentirem capacitadas e a recuperar um senso de controle nnos tempos incertos que vivemos, estariam respondendo a uma necessidade humana fundamental de coesão e propósito. Ao estarem conscientes disso, seriam capazes de atender um chamado, descobrindo abordagens inovadoras para integrar e promover rituais em nossas vidas cotidianas, proporcionando até reconexão e cura.
Mas isso depende de entender um pouco mais do que são rituais e como eles podem ser organizados.
Uma chave para se ligar onde há rituais, é onde há tradição. Na maioria dos casos, uma tradição é acompanhada de rituais. Tradição é a transmissão de costumes e crenças de uma geração a outra, enquanto rituais são uma serie de ações realizadas de acordo com uma ordem prestabelecida, e que muitas vezes é inserido num sistema simbolico maior, como religião ou filosofia.
Catherine Bell em seu "Ritual Theory, Ritual Practice" (não disponível em português) destaca que os rituais não apenas constroem significado, identidade e poder, mas também as categorias e relações que as pessoas usam para se conhecer e conhecer os outros.
Isso vai de encontro com a própria palavra “ritual”, que vem de “rito” e pode ser entendida como o fluir de movimento e repouso, uma realidade que descompõe o tempo e modula harmoniosamente as ações humanas no mundo. O que implica a capacidade dos ritos de criar uma estrutura ordenada e significativa no tempo e no espaço.
Claro que a definição de ritual varia consideravelmente de acordo com o contexto, sendo moldada pela cultura e perspectiva social. Normalmente são focados em áreas específicas da vida, como transições, celebrações ou curas, e é a sua repetição e atribuição de significado que transformam experiências cotidianas em rituais. Alguns estão tão integrados à nossa rotina que mal percebemos. Por exemplo, a maneira como preparamos nosso café todas as manhãs pode ser considerada um ritual.
O site The Conversation elencou 3 papeis importantes dos rituais na sociedade atual: