Nesse documento discutimos as mudanças nos sistemas de educação nessa virada de era do físico para o figital. A escola figital reabre suas portas para o mundo, ampliada pelo digital e orquestrada pelo social [as pessoas e instituições, em rede].

Um movimento que se sobrepõe à escola medieval e recupera os modelos de aprendizagem das escolas gregas, desta vez em escala global, viabilizado pelo mundo figital. Essencialmente sem salas de aula virtuais, simulacros que já faliram no mundo físico e não serão mantidos no mundo figital, pois já não fazem sentido para toda essa geração pós revolução industrial, que não quer emprego, que não quer escola, que não quer mais fábricas, pelo menos não da forma como estão.

a escola aberta

um espaço para descobrir

No início era o verbo. A Escola Peripatética [335AC] de Aristóteles era baseada na oralidade: o filósofo caminhava com seus discípulos ao ar livre, nas passagens sob os portais [perípatos] do Liceu, enquanto lia em voz alta e dava preleções. Aristóteles pode ser considerado o primeiro cientista ocidental; herdamos seu repertório intelectual, a forma de avaliar os problemas do mundo e investigá-los de maneira estruturada.

A escola era um espaço de descobertas, uma tentativa de constituir um princípio único, transcendente a tudo que é mutável. Com uma teoria basicamente empírica, que durou até a Idade Média, Aristóteles sempre começava a pensar a partir de fatos, correspondentes a experiências. E hoje temos humanos resistentes a fatos... e dados. Pense.

Antes de Aristóteles, a Academia de Platão [387AC] já fazia uso do espaço aberto para seus debates, no entanto, seguia uma orientação muito mais especulativa. Os jardins da propriedade onde filósofos construíam conhecimento a partir do debate contextualizado não eram cercados de muros, o que era um problema a menos, para um aprendizado baseado em... problemas.

Descobrir, seja por uma perspectiva empírica ou especulativa, estava na essência das escolas gregas, espaços abertos, tanto do ponto de vista material, físico, quanto conceitual, da possibilidade do não saber a priori. E perguntar[-se] por que, sempre.

https://s3-us-west-2.amazonaws.com/secure.notion-static.com/64ae0d2d-759e-49eb-9514-532f5b757dfd/18b1d80a-b710-477e-ac71-46d1e4af5e35.jpg

a escola fechada

um espaço para ensinar

Os muros das escolas são uma herança das escolas medievais, das escolas monásticas e episcopais. Espaços para ensinar, formar pessoas que seguem um determinado pensamento, repetem verdades estabelecidas a priori. E querem ouvi-las de volta.

Junto com os muros vieram os princípios do ensinar como uma ação monológica, uns poucos falam para muitos que ouvem, assimilem e repitam. Esse é o modelo vigente, e não é de hoje. As escolas monásticas e episcopais remontam à Europa do século VI, quando Bento de Núrcia determina o conceito de regula, recomendando que para aprender [a repetir] os aprendizes [monjes] deveriam estar todos em um mesmo lugar e sob obediência ao abade [abbas, ou pai].

Nessa escola não há espaço para descobertas, mas apenas para repetir informação e conhecimento que já está escrito, consolidado. Especialmente nos livros sagrados, ensinado pelos donos do saber. Os livros, copiados manualmente, principal fonte de informação, eram guardados a sete chaves, para uns poucos privilegiados.

Aqui, na escola fechada, o conhecimento é estático, está pronto, não tem que ser construído, mas repetido como mantras. Não pode ser criado a partir do pensamento.

https://s3-us-west-2.amazonaws.com/secure.notion-static.com/72ae3ae7-564e-46a3-9e07-a5255f79c5bc/437b6008-5ba6-412f-b8ab-5c3e1795ce7d.jpg

a rede desestrutura a escola

e... o espaço vai para o espaço

A natureza participativa de muitas aplicações e atividades sociais na Internet está alinhada a princípios fundamentais de como os seres humanos aprendem, especialmente as práticas de criação, compartilhamento, colaboração e crítica.

A chegada da internet comercial e todo seu potencial para tais práticas colocou em xeque os mecanismos históricos da escola, principalmente o monólogo silencioso das salas de aula, onde estudantes assistem passivamente aulas expositivas sobre temas que quase nunca os interessam, até porque são temas distantes do seu contexto, definidos a priori para cumprir um plano de conteúdo pré-estabelecido. Daí o desengajamento estrutural da escola, hoje.