por Rodrigo Menegat, Tiago Maranhão e Vinicius Sueiro

Se todos os mortos da covid-19 no Brasil fossem seus vizinhos, seu bairro provavelmente desapareceria do mapa. Pode ser até que a sua cidade inteira morresse. Pensar nesse cenário hipotético pode ajudar a entender o tamanho da crise sanitária que afeta o país, mas é algo complicado de fazer.

Visualizar quadras e quadras ao seu redor ficando sem vida de uma semana para a outra não é um dos exercícios de imaginação mais fáceis. A ideia vem fácil à cabeça, ainda que de forma abstrata. A imagem, não.

Uma parceria entre o Google News Initiative a Agência Lupa mostra na prática como seria um cenário desses. Usando a localização do usuário, dados do Censo 2010 e mapas de rua, este projeto mostra qual seria o raio da devastação caso o epicentro da epidemia no Brasil fosse a casa de cada um dos leitores.

Além dos três pares de mãos que escreveram esse texto, o projeto envolveu diretamente outros quatro profissionais em funções de edição e direção criativa. O trabalho de todos foi motivado pela convicção de que, ao colocar o público no epicentro da doença, ainda que de forma hipotética, seria possível mostrar de forma mais clara a dimensão do problema.

Mas por que pensamos assim e como executamos o projeto? A resposta está nos próximos parágrafos.

Conceito

Uma tragédia invisível

No momento em que começamos a escrever esse texto, no dia 29 de junho de 2020, 58.390 brasileiros haviam morrido devido à covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.

Entretanto, a experiência que cada um de nós - somos três jornalistas, designers e desenvolvedores que moram em locais diferentes do Brasil - teve com a doença até aqui foi bem diferente.

Na equipe, há quem more em São Paulo, cidade que concentra a maior parte dos casos da doença no Brasil e que viveu uma quarentena rígida entre o final de março e a metade de junho.

Há quem more no Distrito Federal, onde a epidemia começou dentro dos centros de poder e, nas primeiras semanas, se espalhou no ritmo mais rápido de todos os estados do país.

Por fim, há também quem more no interior do Paraná, em uma cidade na qual, mais de quatro meses depois do vírus ter chego ao Brasil, apenas uma morte foi registrada até agora.

Para os dois primeiros, a experiência de viver no país que se tornou o epicentro global da maior pandemia do século certamente foi mais marcante e intensa do que para este último, que sempre viu as partes mais dramáticas da crise bem longe de sua vizinhança.

Ainda assim, mesmo para quem mora no centro do caos, a crise sanitária geralmente é experimentada de dentro de casa. A enorme dimensão das vidas perdidas não é tão palpável quanto os inconvenientes do isolamento e das ruas vazias.

A realidade, porém, independe de onde você mora ou de como vive nos dias de quarentena. Dezenas de milhares de brasileiros já morreram. Milhares morrem toda semana. Eles estão dentro de hospitais espalhados por todo o território nacional, mas não os vemos.

Esse projeto surgiu da seguinte indagação: como fazer para que as pessoas passem a enxergar esses mortos? Como fazer para que o custo humano da doença seja mais visível que lojas fechadas e calçadas sem gente?

Referências familiares

60 mil pessoas mortas. É como se um Estádio do Arruda lotado, no Recife, desaparecesse. Como se dois Sambódromos do Anhembi, em São Paulo, sumissem. É impressionante, não?