$$ \color{264B61}\Huge\textbf{changes}\newline\color{264B61}\newline\color{264B61}\large\textbf{seoul, sk — 06.11.2025.} $$


Depois de tudo o que havia acontecido, Milo decidiu tirar um tempo para respirar, pelo menos financeiramente falando. Aproveitou o alívio trazido pelo programa de Residência Artística e pelo contrato de patrocínio com a Johnnie Walker; nunca tinha visto tanto dinheiro em sua conta bancária de uma vez.

Optou por não renovar o contrato do antigo apartamento e, no início do ano letivo, mudou-se para os dormitórios da Jeongsu para economizar. No começo, a praticidade pareceu uma boa ideia, mas com o tempo começou a sentir falta do próprio espaço —e, mais ainda, de sua gata, que estava morando temporariamente com uma amiga.

Desde julho vinha procurando um novo apartamento nos arredores do campus, até que esbarrou em uma oferta difícil de recusar, a poucos blocos dali. Não pensou duas vezes antes de agarrar a oportunidade, ciente de que não apareceria algo tão bom tão cedo. Passou o fim de setembro e todo o mês de outubro organizando o novo lar; um processo mais lento do que gostaria, já que ainda precisava conciliar com as obrigações da faculdade. Assim que terminou, comunicou à coordenação a transferência definitiva para uma moradia externa.

Agora, finalmente, tinha um espaço só seu de novo. O apartamento era modesto, mas aconchegante: uma sala, cozinha com área de serviço, banheiro, um quarto de hóspedes que transformaria em estúdio e uma suíte. Ainda faltavam alguns detalhes —como o isolamento acústico da parede do estúdio, para não incomodar os vizinhos—, mas, no geral, tudo estava em ordem.

Naquela noite, enquanto se recostava no sofá recém posicionado, Milo olhou ao redor e sentiu o cheiro da comida que havia acabado de preparar preencher o lugar. Apesar disso, o apartamento ainda tinha cheiro de tinta fresca, mas também já tinham coisas dele espalhadas ali: os discos empilhados no canto, o cobertor no encosto do sofá, uma xícara esquecida sobre a mesa.

Pensou em quantos lugares já havia chamado de casa e em como, pela primeira vez em muito tempo, não sentia pressa para sair.

Com a questão da moradia fora da equação, Milo agora tinha outro dilema para resolver. Quando ingressou na Jeongsu, o Ateliê Whanki parecia o único lugar que fazia sentido. Apesar do Ateliê Paik também ter lhe chamado a atenção, ele vinha de um período de saturação; cansado da performance constante, do peso de parecer sempre no controle. Então não estava exatamente com paciência para se preocupar em mudar o mundo ou ser inovador. Precisava apenas de silêncio, de introspecção, de um espaço que o deixasse apenas sentir, sem precisar provar nada.

Na Whanki, ele aprendeu a criar sem pressa. Aprendeu a ouvir a si próprio e a se conectar com o que sentia, sem precisar transformar tudo em espetáculo. Mas, com o tempo, isso começou a mudar. Ele percebeu que não queria só sentir as coisas —queria que os outros sentissem com ele. Queria que sua música tocasse as pessoas de verdade, mesmo aquelas que o som não alcançava.

Foi aí que conheceu alguém que enxergava o mundo de um jeito diferente. Alguém que não ouvia o som do mesmo modo que ele. E essa pessoa fez Milo querer mudar tudo; a forma como compunha, como pensava o ritmo, como percebia o que a música podia ser. Ele começou a experimentar com texturas sonoras, vibrações, baixos e batidas, tentando fazer a música ser algo que pudesse ser sentido, não só ouvido.