Biografia.
O pequeno órfão iniciou sua vida em Neukdae aos dois anos, tendo a cidade-estado sido palco de suas primeiras palavras. Hwang Sorah, como passou a ser chamado, foi adotado por um casal tradicional, donos de uma das maiores fazendas da região, e cresceu rodeado por seus dois irmãos mais velhos, também adotados. A disciplina rigorosa da casa Hwang sempre foi motivo de controvérsia entre os vizinhos; alguns apoiavam, dizendo que “filhotes alfa precisam ser criados em rédeas curtas”, já outros pensavam que aquela educação ia muito além do que viam.
Ambos tinham seus pontos, é claro. Sorah e os irmãos, de fato, eram atentados demais, como toda criança pode ser, e precisavam de disciplina constante, mas o fundamento dos ensinamentos recebidos, bem como a ideia de certo e errado dos pais tinha suas raízes em um pensamento antigo, retrógrado até.
E, por mais que a escola ensinasse sobre a igualdade entre os subgêneros durante os dias, ao deitar para dormir, a última coisa que Sorah recordava eram os ensinamentos durante o jantar, os deveres de cada subgênero e seus papéis no ciclo natural. Alfas deveriam ser fortes, proteger e cuidar de ômegas e betas, tinham o papel de prover e liderar, não apenas a sociedade, mas também sua própria família. Seus pais eram a prova viva disso, cada um desempenhava um papel importante ali, havia amor e respeito mútuo, então por que raios um ômega iria desejar se submeter ao desgaste de uma função que claramente era destinada a outro subgênero? O mesmo valia para um beta ou até mesmo outro alfa. Cada um tinha seu papel, com suas forças e fraquezas, e deveriam respeitar sua própria natureza.
Foi com tal pensamento que Sorah cresceu. Assim, a universidade nunca lhe atraiu, não havia espaço para desenvolver o que tinha de melhor: força física, e por isso não hesitou em se alistar assim que completou a maioridade. Por anos, se desenvolveu física e psicologicamente, a cada dia, um passo mais perto de se tornar o que considerava um “alfa ideal”, vivendo dias de perseguição obsessiva pela perfeição.
A ideia era tornar-se capitão do esquadrão. Estava perto, tinha medalhas, reconhecimento e respeito de seus parceiros, tantas missões em seu currículo que ninguém poderia sequer se apresentar como um concorrente digno. O Hwang apenas não contava com a presença de um ômega ali entre eles, recém-chegada de uma transferência de última hora, um suposto adversário para o cargo vago de capitão.
E assim, num espaço de meses, Sorah viu tudo que havia construído ruir por um descuido, uma boa ação e um plano traiçoeiro. Suspenso de suas atividades e com dúvidas que talvez nunca fossem sanadas, deixou a base no raiar do Sol.
Retornar à Palm Tree era diferente. Uma sensação amarga, pesada, talvez porque cumprimentou seus pais com a justificativa de que tinha conseguido férias, a mentira escapando com mais facilidade do que deveria, sem nem mesmo levantar suspeitas do casal idoso, que recebia com alegria o filho.
O Hwang mais novo caiu sobre a cama, deitado de costas enquanto encarava o teto iluminado pelo pôr-do-sol, memórias de infância preenchendo cada centímetro daquele quarto, enquanto tentava pensar nos próximos passos.
Traços de personalide.