Não é sobre tecnologia, é sobre consciência.

Sou um defensor ferrenho da transparência. Para mim, transparência é um dos fatores sine qua non para se ter um time de alta performance. É o que permite que as decisões possam ser tomadas de forma mais descentralizada (promovendo a agilidade); É o que gera mais autonomia, sem a necessidade de interrupções para solicitar informações; É o que promove maior orientação a resultados em times (a famosa peer pressure).

É também uma forma fundamental de fortalecer a ética e o compliance dentro da organização. Inclusive, uma das minhas citações favoritas é a de Louis Brandeis, que foi ministro da Suprema Corte americana e ajudou a desmontar inúmeros monopólios:

Luz do sol é o melhor desinfetante que existe.

Mas a transparência, sozinha, não resolve todos os problemas. E a transparência de dados, já avançando para nosso tema em questão, não faz com que as pessoas magicamente passem a tomar melhores decisões. É preciso mais.

Informação abundante, percepções diferentes

Há uns bons anos atrás, quando estávamos no começo da Tribo, passamos por uma situação que escancarou, pelo menos para mim, como apenas a transparência não era suficiente para promover melhores decisões.

Eu e o Ryo (que inclusive foi quem me inspirou a começar nessa newsletter, e tem uma newsletter imperdível) resolvemos fazer uma apresentação para todo o time sobre as finanças da empresa. Passamos por um período de baixa comercial que, naturalmente, afetaria nosso faturamento alguns meses há frente, dado nosso prazo padrão de pagamento. Então para nós seria super importante controlar custos nos próximos meses, para garantir a saúde financeira da empresa. E os dados mostravam isso claramente, desde os dados comerciais, aos resultados de projetos, até mesmo os consolidados financeiros. Mas as pessoas receberam as informações com surpresa, ao invés de chegar nas mesmas conclusões que nós (que nos parecia óbvias):

“Se temos uma queda comercial, não é só focar os esforços comerciais esse mês?” “Se o meu projeto está dentro da margem acordada, porque preciso reduzir custos?”

Ora, mas os números mostravam que a redução de custos de projetos e de algumas despesas, naquele mês, eram a melhor abordagem para trazer segurança no curto prazo. E todos os números que demonstravam isso estavam abertos: desde o sistema comercial, que todos acessavam e alimentavam, até dados financeiros e de resultados de projetos.

Mas o fato de serem bases de dados disponíveis, não quer dizer que estavam sendo utilizadas para tomada de decisão. Cometemos alguns erros de julgamentos:

Aquela experiência nos fez pensar muito sobre a forma como as informações eram compartilhadas: entre todas as reações que poderíamos esperar, sem dúvidas não gostaríamos que surpresa fosse uma delas.

Na minha experiência seguinte de liderança, dessa vez na Qura, acabei de me fazendo a seguinte pergunta: como podemos compartilhar informações de forma sistemática, garantindo que usamos os dados disponíveis para tomar melhores decisões?

Isso me levou a desenvolver uma abordagem de quatro passos para tratar os dados da organização, utilizando 4 Cs (apenas para facilitar a memória):

4 Cs da Cultura Data Driven.png

Cada etapa é quase que uma evolução da etapa anterior, ainda que a tentativa fosse de avançar em cada uma delas de forma mais um menos em paralelo. Abaixo a descrição de cada um dos passos:

1. Coletar